Mal entendido - ou - Meu diploma - Parte 1
Me dei conta um dia desses de que, sem querer, acabei criando um mal entendido quanto a minha situação profissional aqui no blog.
De vez em quando, eu recebo e-mails de pessoas querendo saber o que foi que eu fiz para conseguir trabalhar como dentista no Canadá e eu me pergunto: "Mas esse povo não lê o blog não? Eu não trabalho como dentista"! Mas foi apenas apos revisar os meus posts que eu percebi que realmente eu não havia sido muito clara.
Assim sendo, resolvi deixar registrada aqui a minha experiência. O meu objetivo não é desanimar ninguém. O relato que se segue diz respeito ao que aconteceu comigo há mais de 3 anos. Muita coisa ou nada pode ter mudado.
"Me formei em Odontologia em dezembro de 1999 e cehguei em Montreal em dezembro de 2001. Meus miseros dois anos de prática no Brasil não foram muito encorajadores. Eu não abri o meu proprio consultorio e acabei trabalhando para outros dentistas, voluntariando na minha faculdade e fazendo mais cursos. Fiquei um pouco desencantada com a situação da profissão em São Paulo. A cidade estava infestada de dentistas e de faculdades de odontologia. Não sei se o mercado se regularizou agora mas quando eu estava por lá, a situação estava de dar medo. É claro que o inicio é dificil para todo mundo e ninguém faz fortuna com dois anos de profissão mas foi um pouco decepcionante.
Tudo isso acabou contribuindo para que eu não olhasse muito para trás no momento da minha mudança. Eu sabia que nada poderia ser pior do que o desrespeito dado ao diploma universitário no Brasil. Quando estava assinando os papéis para a minha imigração eu assinei também um documento dizendo que eu estava ciente de que teria que passar por processos de equivalência para poder exercer a minha profissão no Quebec e que a minha insersão no mercado não seria automática. Tudo perfeitamente compreensivel. Assinei.
Chegando em Montreal tratei logo de validar o meu diploma. Recebi um documento oficial do governo de Quebec atestando que eu tenho tantos anos de escolaridade e que posso carregar o titulo de "Bacharel em Medicina Dentaria". Acontece que aqui a odontologia funciona como o direito no Brasil. Não basta ter o diploma, precisa passar no exame da ordem. Academicamente, o meu diploma brasileiro é válido. Posso fazer mestrado, curso de especialização, pesquisa... so não posso exercer a profissão. Assim sendo, fui procurar a Ordem dos Dentistas do Quebec para me informar sobre o tal exame.
A ordem me passou os formulários e me informou que o exame acontece apenas uma vez por ano. A inscrição deve ser feita até o mês de março ($1.000) e se o seu caso for aceito você pode começar uma bateria de exames que começa no verão e termina no mês de novembro. Cada exame ou entrevista custa entre $3.000 e $5.000 e você tem que trazer o seu proprio material e intrumentos para os examens práticos. Levei os papéis para casa e li tudo várias vezes. Recém casada, sem falar francês ainda, sem grana... meus sogros se ofereceram para emprestar o dinheiro para os exames mas eu fiquei com muito medo.
Algumas semanas mais tarde, recontactei a ordem para fazer perguntas do tipo: Aproximadamente quantas pessoas fazem esse exame por ano? Quantas passam no exame e quantas são reprovadas? Se eu não passar e tiver que tentar de novo, tenho que pagar todas as taxas novamente? Infelizmente, não obtive respostas claras e satisfatorias para nenhuma das minhas perguntas mas a senhora deixou bem claro que a taxa de inscrição já havia sofrido um aumento e de que agora custava $2.000. (Notou o aumento de 100%)?
Foi ai que eu fiquei com o pé atrás e resolvi pesquisar mais. Fui procurar conhecer dentistas que tenham feito o exame e so ouvi historias de horror. Encontrei dentistas brasileiros que venderam o consultorio no Brasil, gastaram TODO o dinheiro com os exames e não passaram, gente que já estava na terceira tentativa, gente que desistiu e voltou para faculdade para começar tudo do zero.Encontrei de tudo. So não encontrei alguém que tivesse passado e estivesse exercendo.
Desisti do exame".
Aguardem a parte 2.